"O abandono da matemática traz dano a todo o conhecimento,
pois aquele que a ignora não pode conhecer as outras ciências
ou as coisas deste mundo."
O assunto do título é um dos mais interessantes em Teoria dos Números. Por certo, a maioria dos leitores aprendeu no ensino médio como somar, por exemplo, os números de ao . O resultado desta soma é . No entanto, verifiquem que somar de ao também resulta em . As perguntas naturais que surgem na mente do leitor são as seguintes.pois aquele que a ignora não pode conhecer as outras ciências
ou as coisas deste mundo."
- Dado um inteiro positivo , de quantas maneiras podemos representá-lo como somas de inteiros positivos consecutivos?
- Como obter estas somas?
- Existem números que não podem ser representados como soma de inteiros positivos consecutivos?
Estas questões serão esclarecidas nas seções seguintes.
Seja uma progressão aritmética de razão e primeiro termo . Logo, seu enésimo termo é . Conforme a fórmula da soma dos primeiros termos de uma e fazendo desta soma um inteiro positivo dado, temos
- Existem números que não podem ser representados como soma de inteiros positivos consecutivos?
Estas questões serão esclarecidas nas seções seguintes.
1.FÓRMULA GERAL DO PRIMEIRO TERMO
Seja uma progressão aritmética de razão e primeiro termo . Logo, seu enésimo termo é . Conforme a fórmula da soma dos primeiros termos de uma e fazendo desta soma um inteiro positivo dado, temos
Reorganizando esta equação, obtemos
(1)
Concluímos então que, a primeira condição necessária para que seja uma soma de inteiros consecutivos é que o número de termos seja divisor do dobro da soma.
Reorganizando mais uma vez a nossa equação chegamos à
(2)
que é a fórmula do primeiro termo . A segunda condição é que seja inteiro e positivo e, para isto, devemos escolher convenientes divisores de , conforme seja par ou ímpar.
Observem que, em , é uma função decrescente de . Desde que , ao colocarmos de modo crescente estes divisores na fórmula acima, reduzirá o seu valor, se anulará ( o que não queremos ) e se tornará negativo ( o que não queremos ). Mas, podemos obter uma cota real superior de se considerarmos a equação em
Logo os divisores de tais que nos garante que o primeiro termo seja . Devemos então analisar estes divisores contidos no intervalo aberto e verificar quais deles deixa o primeiro termo inteiro na fórmula .
Por intermédio das equações (1) , (2) e (3) estudaremos todos os casos de representações de um número natural como soma de números positivos consecutivos .
Observem que, em , é uma função decrescente de . Desde que , ao colocarmos de modo crescente estes divisores na fórmula acima, reduzirá o seu valor, se anulará ( o que não queremos ) e se tornará negativo ( o que não queremos ). Mas, podemos obter uma cota real superior de se considerarmos a equação em
(3)
Por intermédio das equações (1) , (2) e (3) estudaremos todos os casos de representações de um número natural como soma de números positivos consecutivos .
2.POTÊNCIAS DE DOIS
Se , com , então não pode ser representado como somas de inteiros positivos consecutivos.
Demonstração. O número não pode ter a representação em questão por razões óbvias. Para , vejamos.
Se for uma potência de dois, ou seja, se , com natural maior que , então os divisores que interessam de são da forma , com ( descartamos o divisor tendo em vista que, se este número é igual ao número de termos consecutivos, então tem que ser maior que um ) . Inserindo na fórmula , temos
Demonstração. Conforme vimos, pela equação , o número de termos tem que ser divisor do dobro da soma. Ora, sendo primo ímpar, os únicos divisores de são , , e . Veremos agora cada divisor no cálculo do primeiro termo .
Para não consideramos pois não se pode falar de soma consecutiva com apenas um termo;
Para , temos , onde é um inteiro positivo
Para , temos , pois é um primo ímpar;
Para , temos que não é inteiro e nem positivo.
Concluímos então que o único caso em que o primeiro termo é um inteiro positivo é quando o número de termos é sendo esta a única forma em que o primo ímpar pode ser representado como soma de números positivos consecutivos.
Exemplo. Colocar como soma de inteiros positivos consecutivos.
Pegamos então que é divisor do dobro da soma . Calculando o primeiro termo com nossa fórmula , temos . Assim .
Observem que se então é inteiro mas não é. Logo, neste caso, não é inteiro.
E se , então, tendo em vista que, no mínimo , temos e . Logo também não é inteiro por ser fracionário e/ou negativo.
3.NÚMEROS PRIMOS
Se for primo ímpar, então tem uma única representação como somas de inteiros positivos consecutivos.
Demonstração. Conforme vimos, pela equação , o número de termos tem que ser divisor do dobro da soma. Ora, sendo primo ímpar, os únicos divisores de são , , e . Veremos agora cada divisor no cálculo do primeiro termo .
Para não consideramos pois não se pode falar de soma consecutiva com apenas um termo;
Para , temos , onde é um inteiro positivo
Para , temos , pois é um primo ímpar;
Para , temos que não é inteiro e nem positivo.
Concluímos então que o único caso em que o primeiro termo é um inteiro positivo é quando o número de termos é sendo esta a única forma em que o primo ímpar pode ser representado como soma de números positivos consecutivos.
Exemplo. Colocar como soma de inteiros positivos consecutivos.
Pegamos então que é divisor do dobro da soma . Calculando o primeiro termo com nossa fórmula , temos . Assim .
4.NÚMEROS ÍMPARES
Excetuando-se
os números primos, todo número ímpar tem, no mínimo, duas formas de
representação como soma de números inteiros consecutivos.
Demonstração. Seja um número ímpar qualquer, com primo ímpar e é o produto de potências de primos ímpares maiores que . Considere o divisor de , número de termos da soma conforme a equação já vista .
Para , temos , onde é um inteiro positivo.
Logo,
qualquer número ímpar, composto ou primo, possui esta forma trivial de
representação como soma dos números positivos consecutivos . Exemplos: e .
Vejamos agora que, ao contrário dos números primos, para um número ímpar composto esta forma de representação não é única.
De fato, pois para o número de termos , temos como primeiro termo que é inteiro positivo porque no mínimo , para .
Para as outras formas de somas, os divisores de necessitam estar enquadrados no intervalo , sendo a cota real superior.
Exemplo. Colocar como somas de inteiros positivos consecutivos.
A cota real superior é . Assim os números de termos das somas são divisores de maiores que e menores que , ou seja, .
Calculando o primeiro termo de cada soma com a fórmula , temos
e
e
e
e
e
e
e
TEOREMA DE SEBÁ
Se um natural ímpar só puder ser expresso como
soma de dois naturais consecutivos, então, esse natural é um primo.
Este teorema é justificado nas seções e .
5.NÚMEROS PARES
Excetuando-se as potências de dois, alguns números pares podem ser
representados por uma ou mais somas de no mínimo três inteiros positivos
consecutivos.
Demonstração. Observem de imediato que, se é par, então em , temos que o número de termos (divisor de ) é obrigatório ser ímpar, pois é a única forma de ser inteiro.
Logo, para calcular os primeiros termos das somas de , temos que analisar apenas os divisores ímpares do número par tais que .
Exemplo. O primeiro par que não é potência de dois é . A cota superior real é . Os divisores ímpares de tais que é unicamente .
Calculando o primeiro termo . Assim .
Exercício. Calcular todas as formas de representação de como soma de números positivos consecutivos.
_*_
Referência na net:
http://gazeta.spm.pt/getArtigo?gid=151
Imagem: http://www.puzzleclopedia.com/division-exacta/
Brilhante esse artigo!!!
ResponderExcluirSempre procurei encontrar um algoritmo para determinar de maneira fácil se um número é primo e creio que este artigo me ajudou bastante.
Já tenho alguns macetes para determinar se um número é primo ou não tais como:
Dado um número n natural:
1) Testar se n = 2. Se for então é primo.
2) Caso contrário, testar se n é par. Se for então não é primo.
3) Caso contrário, testar se o resto de (n+1)/6 = 0 ou se o resto de (n-1)/6 = 0. Caso não seja 0 em nenhuma das duas divisões, então não é primo.
4) Caso contrário, testar se n é divisível por algum número ímpar entre 3 e a raiz quadrada de n. Caso seja, então não é primo.
5) Caso contrário, então é primo.
Como veem, tenho esses macetes em meu algoritmo de checagem da primalidade dos números inteiros.
Caso alguém tenha mais alguma dica para acrescentar nessa série de condições, ficarei muito agradecido.
Agora verificarei o quão rápido pode ser um algoritmo para determinar a primalidade de um número inteiro baseando-me no artigo exposto.
Obrigado.
Oi, Labrego e Roger!
ResponderExcluirEssa é a grande vantagem da fácil divulgação atual de artigos matemáticos: o quase automático intercâmbio de ideias, o que permite uma mútua ajuda aos pesquisadores.
Os testes de primalidade são uma veia de pesquisa muito promissora pois esta classe de números ainda é bastante resistente no desvendar de sua enigmática natureza, tanto que, quem conseguir, registrará o seu nome na eternidade.
Obrigado pela visita e sucesso nas suas pesquisas!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPara o caso 5, existe outra possibilidade:
ResponderExcluir"n" pode ser algum divisor de 2S, par, desde que seja o dobro do valor de algum divisor de S que não seja, também, divisor de S.
Exemplo:
S = 100
n = 5
n = 8
No caso de n = 25 ; n = 200 ; n = 40 - incluiriam-se os inteiros negativos.
Abraços, conteúdo esplendido!